domingo, 5 de outubro de 2008

Que dia de criança ?!

Passo por ti,
Numa rua qualquer,
De uma cidade qualquer,
Que poderia ser do meu País

Os teus olhos,
De inocência,
Grandes e doces...
De olhar de pesar,
Fitam-me, com réstiasde esperança.

Fraquejo, e desvio o olhar
Por momentos...
Alternando,
Perdido, no chão que piso.

Insistes, com teu olhar
Triste e suplicante.
De cara suja,
De lágrimas roliças.
De cabelo sujo e revolto.
De roupas gastas,
E descalço
Estendes a mão...

De mão estendida,
Suplicas,
por uma esmola...
do tamanho do teu pequeno mundo,
da tua curta vida,
e da minha grande indiferença.

Passo por ti,
De ar indiferente,
De coração pesado,
De vergonha.

Descalço
E calção roto,
De cara suja,
Acompanhas-me
De mão estendida,
Numa ladainha de miséria,
Suplicas...
Uma esmola,
Uma moeda,
Perdido e só, no mundo
Sem eira nem beira,
Apenas com a esperança, como companheira.

Cada passo que dou,
Mais a vergonha me pesa.

Não são as moedas,
Nem um bocado de pão
Que me alivia.
Nem a vergonha que sinto,
Nem a indiferença que mostro
É uma raiva, contida
Como os soluços, que abafas
Em sonhos de criança.

Numa rua qualquer,
De uma cidade qualquer,
Que podia ser do meu País,
Passo por ti.

De mão estendida,
Choras a vida destemida
A amargura do teu fado,
E eu passo ao lado...
Indiferente...

Quantas crianças...
Quantas vidas...
E quanta indiferença
Tal o egoísmo,
Que nasceu em nós.

No teu dia de criança
Nasce a esperança.
Em mim,
Apenas lembrança.

FIM

Essa poesia é de Augusto P.Gil